A Paisagem da Cultura da Vinha da ilha do Pico — A luta do Homem com a Natureza
A Paisagem da Cultura da Vinha na ilha do Pico foi classificada como Património da Humanidade pela UNESCO, devido às suas características únicas no mundo. Um local onde as vinhas são cultivadas em chão de lava negra e representam um exemplo de engenho humano face às adversidades da Natureza.
Nos Açores, a cultura da vinha na ilha do Pico começou por alturas do final do século XV, aquando do povoamento da ilha. Os povoadores aproveitaram os terrenos resultantes dos derramamentos de lava mais recentes (denominados de “ biscoitos”) para as plantações da vinha, e foram experimentando várias castas, até estabilizarem nas que melhor se adaptaram às características do solo e do clima da ilha.
Graças ao solo vulcânico, rico em nutrientes, ao micro-clima seco e quente das encostas, protegidas do vento por muros de pedra áspera e escura, aquecidos pelos raios do sol, a casta Verdelho, que se julga proveniente do Mediterrâneo e introduzida no século XV, foi uma das que se adaptou ao clima e aos terrenos açorianos, resistindo até ao presente.
Reunidas todas estas características, as vinhas na ilha do Pico conseguiram as condições excepcionais de produção e de maturação, tendo dado origem a um vinho licoroso bastante doce, com uma magnífica cor de ouro, que depressa se tornou muito popular em famílias aristocratas.
Este vinho do Pico granjeou fama dentro e fora do arquipélago, tendo sido exportado para muitos países da Europa e América, chegando mesmo até a mesa da corte russa.
Os Currais e as Curraletas
Nos seus primórdios, o cultivo da vinha na ilha do Pico deparou-se com alguns problemas que obrigaram os povoadores a encontrarem soluções engenhosas. O solo vulcânico, áspero e árido; o vento e o sal da água do mar, trazido pelas suas rajadas; e, por último, um clima atlântico que não oferecia o calor propício à produção de vinho; tudo isto eram condições à partida não favoreciam a produção da vinha.
Assim, a solução encontrada pelos povoadores foi a criação de muros perpendiculares e paralelos à linha da costa, construidos com rocha basáltica solta, formando os chamados “currais” ou “curraletas”, pequenos quadrados de pedra que protegem as plantações do vento marítimo mas deixam entrar o sol necessário à sua maturação, criando uma espécie de “efeito de estufa” que permite o pleno desenvolvimento das vinhas.
Estes terrenos, denominados de Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, foram classificados como Património da Humanidade, pela UNESCO, em 2004, por representarem um extraordinário exemplo da adaptação de práticas agrícolas a um ambiente remoto e adverso. Esta Paisagem é composta por uma zona costeira de 987 hectares, e por uma segunda zona, denominada “zona tampão”, de 1.924 hectares.
O extenso sistema de “currais”, assim como os edifícios (casas, adegas, armazéns, moinhos e igrejas), caminhos e canadas, foram construídos por gerações de agricultores ao longo de séculos. O conjunto, contendo “currais” entretanto abandonados e outros que continuam a sua produção, encontra-se grandemente intacto, extremamente bem preservado e sem a introdução de estruturas ou imóveis modernos.
Os sítios do Lajido da Criação Velha e do Lajido de Santa Luzia são os maiores exemplos desta arte de parcelar a terra que esta distinção veio reconhecer.
O Vinho da ilha do Pico
Durante os Descobrimentos, a posição privilegiada do Arquipélago dos Açores para escala e abastecimento das frotas e das posteriores linhas marítimas, foi decisiva para colocar nas várias partidas do mundo os vinhos produzidos nas ilhas, particularmente o vinho produzido na ilha do Pico. As crónicas referem a presença de vinho dos Açores nas embarcações que se abasteciam no Porto das Pipas, na Ilha Terceira, e seguiam para portos nas Índias e no Além-Mar.
Mais tarde, no século XVIII, o vinho açoriano vendia-se bem na América do Norte, nas Antilhas, em Hamburgo e em S. Petersburgo, sendo apreciado pelos Czares da Rússia.
Contudo, na segunda metade do século XIX, as vinhas dos Açores foram dizimadas por pragas (oidium tukeri e filoxera), fazendo com que as produções caíssem de forma catastrófica. Centenas de famílias ficaram na miséria, vendo-se obrigadas a emigrar para os EUA.
Ao tentarem encontrar castas resistentes às pragas, os produtores açorianos recorreram à importação, para enxertos, de castas e híbridos da América, mas importaram também novas doenças que agravaram ainda mais a situação das castas existentes. Algumas das castas americanas, com destaque para a “Isabella”, acabaram por produzir, dando origem a um “vinho de cheiro” de baixa qualidade.
A tradição de vinho de qualidade só é retomada nos anos oitenta do século XIX, com acções de reconversão da vinha que permitiram uma recuperação significativa do vinho Verdelho tradicional, tendo sido também introduzidas com êxito novas castas de origem Europeia e novos sistemas de condução da vinha.
Aliando uma tradição que remonta ao século XV com conhecimentos e tecnologias bem actuais, o vinho do Pico readquiriu, assim, o seu lugar nas garrafeiras de qualidade.
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